Um matuto goiano

– A gente é um bicho muito misterioso; o mundo é uma preguiça; a vida é uma piada. O Cruzeiro do Sul sumiu, está do lado de lá do mundo. ‘Ah, meu Deus, ele era a minha diversão’! Agora eu fico aqui, imaginando o quê, ou de quem, pode ser os barulhos que vem de lá do Enxadão (córrego). Será que são fantasmas? Hum... Não me importo, só quero passar o tempo (risos). De dia não tem diversão, não tem risos; a labuta não é fácil! Faço cara feia, aqui neste sertão, porque o povo daqui é tudo metido a bravo. Meu pai me ensinou assim, mas à noite, quando tomava a cachaça e pegava a viola, suas lágrimas corriam; seus versos rimavam na melodia, e eu me surpreendia, não conhecia aquele homem. Pela manhã, aquela intimidade tinha fim. Eu não bebo, não toco viola; mas gosto de servir um licor de jabuticaba pras visitas, e espero ansioso pra ver um violeiro chorar. De vez em quando eu vou na cidade, mas é só pra comprar um salzinho pra criação. As coisas lá na Rua (apelido da corrutela), tão agitadas (risos), estão falando na tal da internet; queriam até me vender aquela geringonça. Mas ainda não tinham uma pra me mostrar. Como vou saber se é de comer ou de jogar fora?

E chegou a televisão na roça:

– Rapaz... Mas tem bobo pra tudo nessa vida (risos)! Você viu o tal do Bonner contando aquela história, sabe qual né (risos)? Moço, como que ele fala que não pode matar os animais? Tem umas pragas de uns macacos ali; direto, estão no meu milharal. Agora é sério, o Obama vai ganhar. E o Lula já está rondando por lá né; o bicho não é bobo não, é igual meus porquinhos, quando não estão na lavagem, estão na merda (risos). Estou pensando em comprar o tal do computador, parece que todo mundo tem; capaz que eu consigo domar esse trem. Mas ainda não vi nenhum proveito nisso. Agora eu penso em férias, em aposentadoria. Mas a vida está mais difícil. Meu amigo, e não é que a crise mundial chegou aqui também! Ah, me lembrei, estou num mato sem cachorro; como eu explico que zero é nada? Será que é mesmo? Já estou nos nervos com o moleque.

E chegou o evangelho:

– Cristo é bom demais! Ele veio até aqui, no Mato Grosso. É rapaz... Agora eu sou crente. Ó, eu não faço mais os licores não. Deixa eu te ensinar umas coisas, calma aí... Pronto. Minhas vistas estão cansadas, me faça um favor, leia aqui pra mim...

E eu, o matuto, mais uma vez voltei pra cidade. E depois de muito tempo, me converti ao evangelho. Não me lembro o que eu li, mas me lembro de ver esperança naquele olhar, enquanto eu estava com a Bíblia em mãos. Todo constrangido, com medo de decepcioná-lo por não entender qual era o seu sonho, mas com o meu coração ardendo em amor. Agora, olhando para trás e vendo todos estes personagens mato-grossenses, reúno-os em um. Toda a vivência, toda a fantasia, e toda a interferência divina me fazem enxergar a Cristo, sim, o quanto o Senhor é melhor, maior e é amor.

Wesley Santos Rezende

2 comentários:

Jolie disse...

Oi Wesley a Paz do Senhor! Há tempos queria escrever um comentário aqui, finalmente chegou esse dia!
Parabéns Wesley a cada dia seus textos estão melhores, glória a Deus pela sua vida!
É assim mesmo quando Jesus entra em nossas vidas tudo muda.
Deixamos pra trás tudo que já não faz sentido em nossas vidas e muitas coisas são acrescentadas, novos sonhos, esperança, alegria, paz, amor, fé, entre tantas outras bençãos que o Senhor na sua infinita misericórdia e bondade nos oferece.
Porém o mais importasnte é tornar-se nova criatura em Cristo e ter como alvo a nossa salvação.
Deus te abençõe!
=D

Wesley Rezende disse...

Olá Jéssica,

A paz do Senhor!

Obrigado por sua visita, e por suas palavras. Vejo que o Senhor, aos poucos, tem me presenteado – toda glória seja dada a Ele. Não que Cristo seja lento ou fraco; mas sim, para que eu vá crescendo de forma consistente. A obra de Cristo, em nós, tem que ser diária. E como você escreveu, o mais importante é: “alcançando o fim da vossa fé, a salvação da alma” (1 Pe 1.9).

Que o Senhor te abençoe!
=D

Wesley