Onde estou?

Nem sempre é fácil discernir o momento da vida em que se vive. Quando há sentimentos fortes envolvidos numa inter-relação tem-se a sensação de aproveitamento do tempo – sensação de vida. E mesmo na solidão, quando existem intensos pensamentos que envolvem um conjunto distinto de possibilidades para uma decisão ou expectativa, que conscientemente podem levar à tristeza ou à felicidade, tem-se um êxtase; por haver uma visão de controle da própria vida – as próprias escolhas produzindo um futuro, desejado ou não. É neste estado de ocupação intelectual que o homem pode se sentir feliz.

Qualquer prática é concomitante a sentimentos. Estas práticas e sentimentos podem ser considerados, no momento, desprezíveis. Mas num futuro, podem gerar algo relativamente interessante – o homem sempre está ligado ao seu passado. Separando as práticas dos sentimentos vê-se o quanto o homem é contraditório. E, sob a influência ímpar ou par, o homem se liga ao futuro. Nesta esperança também se encontra a expectativa nas atitudes das outras pessoas. Mas quando a dependência maior é em Deus todas as possíveis frustrações são superadas.

Ninguém dentro de um ímpeto de felicidade se sente uma vaidade. E, ninguém no mais profundo sentimento de solidão, ignora a possibilidade de uma interferência humana ou divina. São extremos que não podem afastar o homem do próprio Deus! O que é um sentimento profundo de solidão? Quando se conhece a solidão de fato, percebe-se que ela é restrita a momentos. O homem se sente isolado da sociedade, da família; e pior, isolado dentro de si mesmo, não conseguindo unir-se para viver – existe uma guerra dentro do homem. E nestes momentos notam-se desamparados por Deus. Como alguém ainda tendo expectativas em Deus pode se sentir só? É por causa da consciência dos pecados. – Cristo tomou os pecados dos homens sobre si, se fez maldição (2 Co 5.21; Gl 3.13). Isso fez com que Ele experimentasse a separação com Deus Pai (Is 59.2): “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?” (Mt 27.46). Após isso, Cristo bradou: “Está consumado” (Jo 19.30). E então, entregou o espírito. Assim tiveram fim os seus sofrimentos, e se consumou a redenção da humanidade.

Todo sentimento de perdão é precedido pelo sentimento de culpa. É neste intervalo que o homem se sente distante de Deus. Mas o permanecer nesta solidão é algo complexo. Apesar de Deus sempre estar disposto a perdoar (exceto Mt 12.31), o homem nem sempre alcança esta graça (Mt 13.15), e às vezes, alcança somente depois de muita demora. Por um tempo, tenta justificar-se, em si, com pensamentos predestinalistas. E mesmo depois, quando entende que Cristo pode resgatá-lo, tem certas reservas – homem de pequena fé. Mas este autoflagelo não é suportável por muito tempo. Então, o homem clama por misericórdia!

E depois de ter recebido o perdão? Nasce uma nova criatura. Mas talvez esta nova criatura não se prepara para enfrentar as conseqüências de seu pecado. Então, o contrapor-se das lembranças do mal ao sentimento de possibilidades de vida em Cristo traz a tristeza. De fato, isto é duvidar do perdão. Às vezes, o próximo é quem conduz o homem a esta dúvida – devido à opressão –; ou o próprio se enfraquece por não estar obtendo vitórias em seu cotidiano – o que é ignorância, pois a maior vitória é estar em Cristo. Enfim, novamente se aproxima de Deus, e nisso ele é aperfeiçoado pelo Altíssimo – então, passa a ter um caminho linear rumo ao Céu, quebrando o ciclo culpa-perdão-dúvida-culpa.

Pobre homem é aquele que tarda para identificar suas culpas. Isso acontece quando não está valorizando a presença de Deus – devido às distrações não nota Sua ausência –, quando não tem a atenção focada no Reino de Deus, e na sua justiça. No entanto, de alguma forma, o Senhor revela a situação pecaminosa em que o homem possa se encontrar (1 Co 5.5; Hb 12.6). Assim, onde havia loucura; com a resplandecente glória do Senhor passa a existir discernimento.

Somente Deus pode revelar em que situação o homem se encontra! E é a partir do conhecimento de Deus que o homem se ocupará em algo que verdadeiramente pode fazê-lo abundar em felicidade.

“Porque a palavra de Deus é viva, e eficaz, e mais penetrante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até à divisão da alma, e do espírito, e das juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e intenções do coração.” (Hb 4.12)

Wesley Santos Rezende

Não conhecemos, ao todo, a criação; e menos ainda o Criador!

“Assim, me embruteci e nada sabia; era como animal perante ti.” (Sl 73.22)

Sentir a distância de sentimentos felizes, numa debilidade que impede qualquer resposta – esperada por outros a partir da incompreensão –, e exercer força contrária ao direito de ter a realidade mudada. Pensamento profundo que não chega a nenhuma conclusão.

Alguém que já vivenciou a felicidade teria o anseio de tê-la novamente, mas não quando o medo de novas desilusões cria uma visão de necessidade da economia de energia, numa época em que todas as coisas parecem contrárias. O retorno para a felicidade é adiado, devido ao entendimento de estar desperdiçando tentativas por causa da incerteza da forma com que os fatos acontecerão – tudo é almejado com diversas condições para ser perfeito. E esse adiamento não é visto como perca de tempo, mas como um momento fora de cronologia – loucura. Já bastam as faltas; do restante, a ilusão de estar estagnado resolve. Não há como agir; conforme as expectativas dos outros quando falta compreensão do espectador; e principalmente, conforme o desejo próprio quando o indivíduo não está convicto em nada; ou pior, quando está convicto de algo improvável:
       – Eu não vou ser feliz agora, porque eu não posso ser feliz agora. Eu não quero ser feliz agora!

Mas chega o momento de transigência, ninguém é tão forte a ponto de permanecer propositalmente numa hibernação intelectual. É como a sujeição a um vício, algo que pode ser acidental e progressivo; ou como a aceitação da natureza, simplesmente proposital. Algo rudimentar, na natureza humana, é a capacidade de raciocinar. Considerada imperfeita ou não, não importa. É algo que não se pode separar do homem!

Então, se a busca por valores reaproveitáveis é frustrada, por causa dos novos objetivos, inicia-se a formulação de novas ideologias – engraçado como tudo é condicionado ao provável, mas na verdade incerto, dia do amanhã. Primeiro, é necessário chegar a um conceito sobre a felicidade. Cada um tem o seu. Talvez mal pensado e certo, talvez muito pensado e errado. Certo ou errado, por haver a possibilidade de reformular esse conceito. Ah... Como estes homens são inconstantes! Segundo, é necessário construir uma espessa proteção contra os possíveis ataques ao ego. Os sentidos passam a funcionar de forma censurada ou restrita, dentro duma tentativa de autocontrole para conservar a equivocada sensação de paz. Mas tudo gira em torno da conquista da felicidade.

O homem é insensato, e sua aparência demonstra isso. “Todo prudente procede com conhecimento, mas o insensato espraia a sua loucura.” (Pv 13.16). Tudo isso é reflexo do distanciamento de Deus. “Pelo que também Deus os entregou às concupiscências do seu coração” (Rm 1.24).

Por outro lado; o encontro do homem com Deus. O Senhor abençoa com a paz que excede todo o entendimento; dá o entendimento em tudo. Que tipo de compreensão seria esta? A que nível de entendimento o homem pode chegar?

Com certeza não é algo como o conhecimento científico ou psicológico. Não há como estudar o homem sem considerar a presença divina. Tudo no homem é reflexo da intimidade ou rebeldia com Deus. Às vezes, o homem faz tudo para se mostrar independente, mas consegue justamente o contrário: Mostrar que Deus é o ator, a essência, e a própria vida.

E muito menos, é possível caracterizar Deus dentro de tais conhecimentos. “Mas Deus no-las revelou pelo seu Espírito; porque o Espírito penetra todas as coisas, ainda as profundezas de Deus.” (1 Co 2.10).

Agora, trágico é quando o homem tenta compreender aquilo que não foi revelado por Deus. Conceituar uma divisão na Trindade é algo extremo. É além, três Pessoas distintas que não deixam de ser Unidade. Mas surgem umas pérolas de arrogância:
       – Isto é o Espírito Santo quem faz, e isto é Deus Pai.
       – Não, isso foi o Espírito Santo quem fez, e não Jesus Cristo.
Mas nisso, me glorio em confessar que não compreendo. “Nisto, pois, está a maravilha: que vós não saibais de onde ele é e me abrisse os olhos” (Jo 9.30).

Condicionar a felicidade ao conhecimento de tudo traz somente decepção. E é verdade a ironia: “Eu disse: Vós sois deuses, e vós outros sois todos filhos do Altíssimo. Todavia, como homens morrereis e caireis como qualquer dos príncipes.” (Sl 82.6,7)

“Muitos dizem: Quem nos mostrará o bem? Senhor, exalta sobre nós a luz do teu rosto. Puseste alegria no meu coração, mais do que no tempo em que se multiplicaram o seu trigo e o seu vinho. Em paz também me deitarei e dormirei, porque só tu, Senhor, me fazes habitar em segurança.” (Sl 4.6-8)

Wesley Santos Rezende

“Dentre os seus filhos me tenho provido de um rei.” (1 Sm 16.1)

Toda glória, honra e poder pertencem ao Deus Altíssimo. Ao homem, toda glória, honra e poder vêm do Deus Altíssimo, ou com a permissão dEle. Aqueles que têm responsabilidades para com o povo de Deus recebem a unção do Santo. Aqueles que trabalham para a propagação do Evangelho são reconhecidos e honrados (por aqueles que são espirituais). É o caso de Davi, que foi escolhido para reinar, governar a nação separada – Israel. Atualmente, é o caso dos obreiros da Igreja. “E a uns pôs Deus na igreja, primeiramente, apóstolos, em segundo lugar, profetas, em terceiro, doutores, depois, milagres, depois, dons de curar, socorros, governos, variedades de línguas.” (1 Co 12.28).

O exercício dos dons espirituais tem o objetivo de sanar as necessidades da igreja do Senhor. Pelo zelo que Deus tem por todos nós, somos capacitados, mediante a fé, para intensificar a integração e edificação uns dos outros. Por causa das necessidades da congregação, é indispensável uma hierarquização dos dirigentes ministeriais. Tudo para haver ordem e decência.

Notadamente, existem muitos “obreiros” que não foram chamados por Deus. Mas conseguiram posição ministerial por pressionarem dirigentes irresponsáveis; ou por terem poder financeiro ou político são bajulados com cargos na igreja. São vários os que alimentam o próprio ego com o status de obreiro.

Mas aqueles que realmente foram chamados por Deus, podem-se regozijar pelo que são? Sim, é possível se alegrar e manter a humildade. “Mas prove cada um a sua própria obra e terá glória só em si mesmo e não noutro.” (Gl 6.4). “Na verdade, vós sois a nossa glória e gozo.” (1 Ts 2.20). “Porque a nossa glória é esta: o testemunho da nossa consciência, de que, com simplicidade e sinceridade de Deus, não com sabedoria carnal, mas na graça de Deus, temos vivido no mundo e maiormente convosco.” (2 Co 1.12).

Deus é maravilhoso, tem nos agraciado com bênçãos inesperadas. Paulo reconheceu esta graça. Ele que considerou que fora o principal dos pecadores foi chamado para apóstolo (1 Tm 1.15,16; Rm 1.1). Anteriormente, ele nunca tinha imaginado uma glória tão grande em sua vida, e que ocuparia um lugar de honra.

E sobre Davi, penso que ele nunca sonhou com o reinado antes de conhecer a Samuel. Mesmo sendo um jovem obediente, corajoso e dependente de Deus (1 Sm 17.32-37), não era reconhecido em sua família – mas “ os passos de um homem bom são confirmados pelo Senhor” (Sl 37.23). Penso que suas expectativas eram resumidas em coisas pequenas, por ser demasiadamente reprimido pelos irmãos. Não que ele não tinha esperança no Senhor, mas que ali também se cumpriu: “As coisas que o olho não viu, e o ouvido não ouviu, e não subiram ao coração do homem são as que Deus preparou para os que o amam.” (1 Co 2.9).

Ninguém consegue impedir a vontade de Deus. Mesmo com as possíveis improbidades nas convenções eclesiásticas, aqueles que são chamados por Deus e permanecem fiéis ocuparão a posição ministerial que Deus julga conveniente. Agora, na verdade podemos até não pensar em ser pastores, doutores, pregadores, etc. Mas se sabemos que somos escolhidos para SERVIR a Deus, o Senhor pode nos pôr em posições de certo poder e honra quando achar útil.

“Fui achado pelos que me não buscavam, fui manifestado aos que por mim não perguntavam.” (Rm 10.20)

Wesley Santos Rezende