O momento com Deus
Ele tem seu particular com Deus, e isso não me causa ciúmes, pois Deus também me reserva a Sua atenção. Quando ele quer me introduzir na presença do Altíssimo, num momento de exclusividade, fico apreensivo. Mas não me culpo, pois as minhas virtudes não podem ser desmerecidas por causa de uma crise no relacionamento de alguém com o Senhor. E também, ninguém adentra a presença de Deus sem a Sua permissão.
Não é me negando a estar presente que vou ajudá-lo a aproveitar sua intimidade com Deus. Não é me acovardando em entrar num ambiente de discórdia que serei um servo útil ao Senhor. Apesar de tudo, a consciência de que a minha presença nem sempre é proveitosa me protege de vários inconvenientes.
Todos nós, num estágio da vida, precisamos de alguém que nos influencie. Alguém de que tenhamos admiração, que nos transmita segurança para podermos imitá-lo. Mas existem excessos, como o desejo de ter uma pessoa que sirva de mestre em tudo. Geralmente, a primeira personificação de perfeição é a dos pais. Mas devemos chegar a um estágio de maturidade em que os julguemos. Nunca deve faltar amor e honra por eles, mas aquilo que nos transmitem deve ser examinado (1 Ts 5.21), e assim, se for bem, deve ser estabelecido em nós. – “Quem ama o pai ou a mãe mais do que a mim não é digno de mim” (Mt 10.37). O apóstolo Paulo, criado aos pés de Gamaliel, que por sua vez, era homem venerado entre os judeus, exemplifica, em parte, a dependência proposital na humanidade. Mas Paulo se desvencilhou disso, mesmo Gamaliel tendo méritos, receber algo do Senhor é muito melhor. Ninguém substitui Cristo no lugar de perfeição. Não podemos esquecer que o único digno de glória, e honra e poder é o Senhor. É a Ele que devemos imitar em tudo. É a Ele que temos que convidar a estar presente em todos os momentos de nossa vida – “Vós me chamais Mestre e Senhor e dizeis bem, porque eu o sou” (Jo 13.13).
Posso ajudá-lo a entender isso. Não sou prepotente, às vezes caio no mesmo erro, mas me disponho em servir a Deus. É pela vontade de Deus que me arrisco em expor conhecimento: Saul e Davi não rejeitaram o reinado, mas atenderam a chamada divina. Mesmo sabendo que a princípio Deus tinha sido rejeitado pelo povo (1 Sm 8.7), não se sentiram culpados pelo fim da teocracia. Havia a promessa de estabelecer um reinado humano (Gn 17.6; 49.10), mas o povo se precipitou; não soube aproveitar o momento de exclusividade com Deus, não soube discernir o momento certo para expandir suas relações sociais. Mas, por amor, dentro das falhas de alguns, Deus prepara servos para amenizarem os distúrbios do cotidiano.
Mas eu tenho que lembrá-lo dos prejuízos: A ira do Senhor se acendeu contra Moisés por faltar-lhe fé (Ex 4.14). Deus tinha interesse na exclusividade da realização daquela obra por Moisés – “Vai, pois, agora, e eu serei com a tua boca e te ensinarei o que hás de falar” (Ex 4.12).
É proveitoso lembrar-se da morte. Deus fez Josué lembrá-la: “Moisés, meu servo, é morto” (Js 1.2). – E agora? Quando procuro alguém confiável para estar comigo perante o Senhor e não encontro, e pior, encontro a oposição da morte? Deus, após confrontá-lo com a lembrança da morte, responde a essa pergunta: “Não to mandei eu? Esforça-te e tem bom ânimo; não pasmes, nem te espantes, porque o Senhor, teu Deus, é contigo, por onde quer que andares” (Js 1.9).
Por fim, farei um novo desafio a ele: Ao contrário de me convidar para interromper o particular que Deus te oferece, quando for se aproximar de mim convide a Deus para te fazer companhia. Não quero estar entre você e Deus, mas quero que Deus sempre esteja entre nós.
“E Jesus disse-lhe: Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu pensamento. Este é o primeiro e grande mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo.” (Mt 22.37-39)
Wesley Santos Rezende